Aviso: texto com spoilers, já que propõe um debate sobre o enredo.
Lançado em 2010, Ilha do Medo indicava ser um filme de terror, atraindo muitos fãs do gênero e uma arrecadação de 60 milhões de dólares. Quem resolveu assistir o longa pelo clima de terror do trailer se decepcionou: a produção trata de loucura e da falta de distinção entre realidade e imaginação.
O ano é 1954. Dois agentes federais, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Rufallo) são enviados à Shutter Island Ashecliffe Hospital, em Boston para investigar o desaparecimento da paciente Rachel Solando. Ela está em Ashecliffe por ter afogado seus três filhos em um lago e acreditar que eles ainda estão vivos.
Embora seja a primeira vez que Teddy trabalha com Chuck, ele revela que aceitou o caso por motivos pessoais: Andrew Laeddis, o homem que matou sua esposa (Michelle Willians), foi internado em Shutter Island. Além disso, o ex-soldado desconfia que sejam realizados procedimentos cirúrgicos ilegais no local.
O filme pode não ter um final surpreendente, mas é uma ótima produção que homenageia o gênero, além de fazer referências de outros filmes do diretor. Comparem as cenas de abertura de A Ilha do Medo e Taxi Driver. A direção de arte ajuda a separar os momentos de lucidez e os momentos de alucinação. O real é construído de cores frias e altamente saturadas. Já as alucinações de Teddy possuem cores mais fortes, como o amarelo no vestido de Dolores.
Enquanto Teddy investiga as possíveis atrocidades cometidas pelo hospital, a trama vai dando pistas sobre o desfecho. A reticência de uma das pacientes em relação à Chuck, que na verdade é Dr. Sheehan, a dualidade do Dr. John Crawley (Ben Kingsley), que ao mesmo tempo em que ajuda também mostrar ser “duro”, quando necessário, e a tensão de todas as pessoas do hospital desde o início do filme.
Depois de tantas pistas, descobrimos que Teddy é, na verdade, Andrew Laeddis e que foi ele quem matou sua esposa depois que ela assassinou os filhos do casal. O caso de desaparecimento foi forjado para uma tentativa de cura do paciente. Mas há alguns furos. Todas as pessoas da clínica foram instruídas a compactuar com a história, até mesmo os pacientes com elevado grau de loucura? Por que a enfermeira encena de forma tão convincente o papel de Rachel Solando?
Uma das últimas frases: “Você prefere viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”, pode explicar tudo ou causar ainda mais dúvidas. Laeddis aceita a sua condição de louco, mas prefere fingir que ainda acredita ser um detetive simplesmente para ser lobotomizado e esquecer o horror dos assassinatos? O método realmente não funcionou e Laeddis continua louco? Ou realmente a Shutter Island é um lugar terrível e conseguiu transformar um detetive renomado em um louco incontestável?
Essa é a levada principal do filme: muito mais que se propor a ser um filme de terror ou um suspense genial, Ilha do Medo – mesmo que alguns fiquem desapontados – quebra a barreira entre filme e realidade e transpõe a loucura dos personagens para os espectadores, gerando uma dúvida eterna: Ele realmente era louco ou foi enlouquecido? Por mais evidências que apontem para a primeira opção, esta é uma questão que não sei responder.